quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Motoserra mata as árvores







Fotos mostram o tamanho do corte das plantas nas praças da Cultura e da Bandeira

“Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão. E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada”

Poema atribuído ao russo Maiakowski

Parte considerável da população de Brotas de Macaúbas está revoltada com o corte de árvores – algumas frondosas – que acontece no momento nas praças da Cultura e da Bandeira. O som da motosserra acordou os moradores nesta Quarta-Feira de Cinzas, início da Quaresma, e houve muita reclamação. Um morador chegou a chegou a passar mal ao ver as plantas sendo serradas e jogadas no chão. Uma paisagista contratada pela Prefeitura Municipal comanda o trabalho que tem revoltado pessoas como uma professora: “Isso é um crime e não vemos coisa igual em lugar nenhum, como em Salvador, onde árvores centenárias são preservadas em todos os cantos, a exemplo do Campo Grande e do Corredor da Vitória e ai de quem ousar serrar uma delas!” desabafou.

O certo é que figueiras, oitizeiros, algarobas e outras árvores são cortadas sem dó nem piedade. Até mesmo uma palmeira, no centro da Praça Bandeira – onde está o prédio da antiga Prefeitura, que hoje dá lugar à Biblioteca Milton Santos – não escapou. Ardeu em chamas durante a madrugada, numa imagem chocante que assustou quem viu. “Isso é pervessidade. Colocaram fogo na palmeira, coisa triste e fizeram o serviço na calada da noite, às escondidas”, contou outro morador da praça, que não quis se identicar.



PAISAGISMO EMBELEZA

O trabalho paisagístico é necessário e embeleza a cidade, quando feito de forma ordenada. Há exemplos disso na cidade, como a Praça Horácio de Matos e até mesmo na Praça da Matriz. O que se questiona é a derrubada de árvores frondosas que serviam para dar sombra às pessoas, principalmente aos aposentados que ficam na porta dos Correios, à expera do expediente para a retirada de seus rendimentos. O som da motoserra grita no ouvido da população que assiste a essa devastação. Vale destacar que Brotas de Macaúbas é uma cidade onde o sol é muito quente na maior parte do ano e com essa ação perde pulmões e sombra. Uma pena!

No passado Brotas de Macaúbas viveu uma grande polêmica por causa da derrubada de duas grandes gameleiras que cederam lugar para a construção do Mercado Municipal na Praça da Matriz. Houve protesto, discursos e até confronto, prevalecendo a vontade do então prefeito, cujo nome batiza o mercado. Isso no final dos anos 50, quando a causa ecológica não tinha a força de hoje. A luta em defesa do meio ambiente cresceu e ganhou o mundo. Em Brotas, ao que parece, essa luta faz parte, quando faz, de algumas redações na escola, pois até mesmo o Boqueirão está abandonado, depredado e esquecido. E isso não é de hoje!
ABANDONO E COBRAS


A população de Brotas hoje reclama do abandono em que se encontra áraes mais afastadas, a exemplo do Parque das Árvores, onde até grandes cobras são encontradas, como aconteceu com o cascavel de quase um metro emeio morto na limpa de um terreno na querta-feira (22). Os fundos da Rua Padre Carrilho estão tomados pelo mato e cobras também têm aparecido no quintal de muitas casas.
Entre as ruas Joviniano Rosa e José João de Oliveira – a rua do meio – o mato está alto e dá medo passar por ali, como reclamam os moradores que esperam que a paisagista que manda derrubar as árvores no centro da cidade vá dar uma olhada por lá para ver se melhora a situação.



Nota no Facebook dá a versão oficial

Em minha página do Facebook, Adailton Ferro postou um texto sobre a “poda” de árvores na cidade e a “revitalização” das praças em Brotas de Macaúbas. Ele mostra a versão oficial sobre o episódio. O texto diz que “numa operação que envolve 12 servidores do municipio, liderada por uma Paisagista e um Engenheiro Agronomo a Secretária de Obras e Serviços Públicos e a Secretaria de Meio Ambiente realizam operação da revitalização de Praças e jardins da Cidade”.
Prossegue afirmando que “mais de duzentas Árvores já foram beneficiadas com poda de contenção, formação e manuntenção, cerca de quarenta plantas que tina copas mal formadas além de envelhecidas foram revitalizadas, quatro árvores (dois ficus, uma Santa Barbara e um oitizeiro) foram cortadas, após cuidadosa avaliação dos profissionais, por estarem doentes em estágio de declinio ou serem pantadas de forma adensada e com o sistema radicular (raizes) causando problemas nas calcadas e muros de arrimo. tudo tem sido feito com muito cuidado preservando a beleza e garantindo que não ocorra percas significativas para ao ambiente”.
Diz ainda: “Já iniciamos o plantio de novas árvores, com seis mangueiras e com a distribuição de centenas de mudas de Nim, as quais podem ser observadas em todas as partes da cidade.” E complementa, assegutando que “estamos preparando um pequeno Horto (Local apropiado para a reprodução de mudas) adquirimos um Motosserra, uma Motopoda e uma capinadeira lateral, além de equipamentos de proteção individual e outros equipamentos como tesouras de poda, fações, pás, cavadeiras e siscadores”.
Afirma que “construimos uma rede de abastecimento de água que sai do tanque e abastece a praça em suas margens, dali segue para abastecer a praça da cultura, a area em frente ao supermercado Morumbi, a praça dos poderes, a futura praça do aeroporto, a praça do BNH e o Campo de futebol”. E garante: Estamos adquirino tapetes de Grama, mudas de manga e outras arvores frutiferas, alé de plantas ornamentais de pequeno porte, estamos providenciando a aquisição de adubo organico para as praças e para a formação de novas mudas.
Diz também: “por fim a palavra de ordem é a revitalização, assim a praça da Cultura, por exemplo, vai ganhar alÉm das podas (manuntenção, formação e contenção) a recuperação de todo sistema de iluminação, adubação das áreas verdes, novo gramado de placas, manuntenção e melhoria do piso, manuntenção de Bancos, pista de acessibilidade para cadeirantes, tambores de coleta de lixo e também nova pintura.
E conclui: “vamos transformar a paisagem da cidade, ampliando a beleza das nossa praças e jardins, mutiplicando a quantidade de Árvores em nossas praças, ruas e Jardins inclusive introduzindo plantas ornamentais e flores nas repartições públicas. O trabalho continua, é o Governo "Um Novo Tempo Para Todos" cuidando da cidade, cuidando de você”.
NOTA DA REDAÇÃO
Diante dos argumentos postados por Adailton Ferro, que não é funcionário público municipal, mas a quem creditamos conhecimento sobre a questão do corte das árvores na cidade, resta-nos esperar. Pois o que consideramos irremediável – o corte pelo pé de muitas árvores frondosas – não pode ser revertido. Publico o texto em respeito ao direito de resposta que a boa imprensa deve dar a todos os cidadãos, em especial um conterrâneo que, apesar de discordarmos em alguns pontos, merece o respeito como tal.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A maxixada do juiz


Esta história eu escrevi baseada num causo contado pelo lagoadedentense Aldivan Fernandes (foto) que ele garante ser real. Que é engraçado, com certeza é e aconteceu em Lagoa de Dentro, terra natal dos personagens

Marciana, mulher determinada, tirava o próprio sustento numa pequena propriedade – uma rocinha, lá atrás do morro -, próximo à Lagoa de Dentro onde morava desde o nascimento, lá se vão 70 anos. Da sua casa, na parte alta do lugarejo, bem pertinho da igreja da polêmica - de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Polêmica, porque construída por negros descendentes de escravos acabou se transformando no centro de uma briga, uma vez que as famílias de pele branca queriam se apossar da capela e da imagem vinda do estrangeiro. Mas os tempos são outros e outra capela, agora para a Rainha, também Nossa Senhora, fora construída de modo a atender um racismo inexplicável à luz da religião.

Marciana era devota de Maria, batizada que fora na tal igrejinha dos pretos, apesar da pela clara, corpo miúdo. O excesso de peso lhe dava a impressão de estar enfiada a força no vestido bem composto, abaixo do joelho. A lida na casa, onde cozinhava, fazia café, limpava e deixava tudo em ordem, não a impedia de fazer sua plantação de milho, feijão, melancia e maxixe no tempo das águas – entre outubro e março - quando a chuva quebrava a rotina de sol a pino nos cafundós do sertão de Palmeiral, onde a Lagoa de Dentro se localizava.

Naquele ano de fartura, milho e feijão jogavam cabriola na rocinha da Marciana, que era visitada por ela religiosamente todos os dias para capinar, plantar, cuidar e colher os frutos da terra tão pródiga. Na tarde daquela sexta-feira ela esperava colher os primeiros maxixes que se transformariam numa belíssima maxixada, o almoço do sábado. Abraçada a uma cesta de vime lá se foi cantarolando até a plantação onde uma surpresa desagradável a aguardava. Em meios aos maxixes, alguém teve a ousadia de fazer um serviço esquisito, grande e fedorento, que fez a Marciana num rompante sair de volta pra casa com muita raiva e nojo.

- Uncuncuncun, só pode ter sido obra do Zezão.

Disse, referindo-se a Zé de Alvino, antigo desafeto com quem costumava bater boca sempre por algum motivo, seja lá política e até futebol, já que era fanática pelo “glorioso” Botafogo Futebol e Regatas e ele pelo Flamengo.

Marciana estava revoltada em ver seu maxixal ser transformado numa latrina. Era desaforo que ela não admitiria de forma alguma. Se queixaria ao bispo da Barra, se preciso fosse.

- No tempo do padre Carrilho isso não aconteceria!

Gritou para a vizinha, dona Maroca, referindo-se ao legendário pároco, nos dias de hoje nome da principal rua de Palmeiral. Marciana esqueceu o terço, as esmolas do Divino - da qual era das mais entusiasmadas participantes quando o imperador e a bandeira chegavam à Lagoa de Dentro trazendo um mundaréu de devotos -, e xingava o Zezão de tudo quando era nome. Foi quando a Maroca a informou que o juiz da Comarca, Dr. Antônio Rodrigues Barbosa, encontrava-se no lugarejo em visita a Dolores e Pio, casal mais abastado das redondezas. Só deu tempo de jogar uma água no corpo, botar o vestido de bolinha azul, presente da comadre Dozinha, calçar o sapato de missa e jogar o xale na cabeça.

Marciana seguiu determinada a dar parte ao juiz e exigir uma punição para Zé de Alvino. No solar de Pio e Dolores, Dr. Antônio descansava na sala principal degustando um licor de jenipapo com lascas de requeijão, isso após se refestelar com galinha caipira ao molho pardo e uma maxixada, como ele, dizia, “inesquecível obra prima” de sua anfitriã.

Foi com a lembrança na maxixada do almoço que o juiz recebeu Marciana e a sua queixa.

- Doutor, só Deus sabe com que dificuldade me dirijo a Vossa Excelência. É que eu tenho uma rocinha, lá atrás do morro, onde planto uma verdurinhas... E qual não foi a minha desventura hoje quando ao tentar colher uns maxixes para a maxixada sagrada do sábado, me deparei com um tolete de bosta sem tamanho, obra do José de Alvino.

- Traga o meliante à minha presença.

O juiz intimou a vinda do Zezão e mandou o sobrinho dos donos da casa – Aldivan - ir buscá-lo, ele que naquela hora estava tranqüilo em casa fumando o cigarrão de palha de todos os dias. O chamado da autoridade era uma ordem. Ele apagou a contragosto o cigarro, meteu a camisa nas calças, enfiou as alpercatas nos pés e seguiu para ver o que o senhor doutor queria com ele.

- Como o senhor teve a coragem de defecar...

- Defecar o que meu doutor?

- Como o senhor teve a coragem de cagar nas verduras dessa pobre velhinha?

Puxando o nariz, que era virado pro lado esquerdo, e que coçava muito quando ficava nervoso, Zezão assegurou ao juiz que não havia sido ele o autor de tamanha desfaçatez. Do outro lado da sala, Marciana interrompeu-o e gritou em alto em bom tom para todo mundo ouvir, já que a sala estava repleta de curiosos.

- Foi ele doutor, foi ele sim. Eu conheço a rosca!

Depois da “balada” recebida do juiz que prometeu mandar prendê-lo se repetisse a façanha no maxixal da Marciana, o Zezão ficou três meses só bebendo, em casa, morto de vergonha de todo mundo.